O balanço final de vendas no mercado interno de veículos leves e pesados, em 2021, de fato não foi para comemorar. Os números revelados pela Anfavea na última sexta-feira indicaram a comercialização de 2,120 milhões de unidades. Um avanço tímido de 3%, em relação a 2020. No começo do ano passado, a previsão era de crescer 15%. A crise na oferta de semicondutores, as dificuldades de logística e outros efeitos da pandemia de Covid-19 desorganizaram as cadeias de produção em todo o mundo. Só no Brasil estima-se que 300.000 veículos deixaram de ser fabricados em 2021.
Panorama geral continua pressionado para a indústria automobilística. No mundo, 10 milhões de unidades a menos em 2021. Segundo a consultoria internacional BCG, só em 2025 a produção mundial voltará ao patamar de 2017: 95 milhões de unidades de veículos leves. Cerca de 100 milhões, incluindo caminhões e ônibus.
Entretanto, o País conseguiu desempenho razoável no ano passado com produção de 2,248 milhões de unidades (mais 11,6%) e exportação de 376 mil unidades (mais 16%). A desvalorização do real frente ao dólar melhorou a competitividade no exterior, além de aumentar a rentabilidade das vendas externas frente às internas. A expansão das exportações ocorreu mesmo com a crise econômica no principal cliente da indústria brasileira, a Argentina, que dificultou as importações por falta de divisas.
Estoques no último mês do ano passado continuaram baixos: 16 dias somando-se pátios de concessionárias e fabricantes. Em tempos normais variam de 35 a 40 dias. Isso explica a dificuldade de encontrar modelos para pronta-entrega. No mercado dos EUA, por exemplo, que tem perfil de demanda semelhante ao do Brasil, os estoques normais eram de até 80 dias e agora apenas 25 dias.
Em razão da produção menor que a demanda as filas de espera para adquirir um modelo novo, em especial os lançamentos, chegaram em média a 90 dias no ano passado. Para alguns modelos e versões, prazo de entrega ainda mais dilatado.
Este cenário resultou em maior procura por produtos seminovos e usados. O volume comercializado atingiu 11,675 milhões de veículos leves e pesados em 2021. Somando motocicletas e implementos rodoviários foram 15,134 milhões de unidades. De acordo com José Maurício Andreta Jr., que acaba de assumir a presidência da Fenabrave, trata-se do maior resultado já alcançado desde que a entidade começou, em 2004, a avaliar o mercado de usados por meio de transações nas concessionárias, lojistas do setor e entre proprietários de veículos. Fonte é o Renavam.
Quanto às vendas previstas para este ano, sabe-se que vão crescer. O Brasil está aquém dos resultados alcançados em 2019, ano de pré-pandemia (quase 2,8 milhões de unidades leves e pesadas). E muito distante do recorde de 3,8 milhões de unidades de 2012, quando havia incentivo de IPI reduzido e crescimento econômico não sustentável.
A Fenabrave espera aumento de 4,6% nas vendas em 2022, mesmo com incertezas sobre o cenário econômico e político do País. Este é o piso das projeções. A Anfavea tem expectativas mais otimistas: 8,5% de crescimento nas vendas (veículos leves e pesados, nacionais e importados, 2,3 milhões de unidades), 9,4% na produção (2,46 milhões) e 3,6% nas exportações (390 mil).
Sondei três consultorias nacionais: ADK (+ 9,6%), Bright (+ 11,6%) e LMC/Carcon (+ 11,5%). Minha previsão: mercado cresce 10,5%.