Se os hatches compactos ainda representam de longe a preferência dos brasileiros, apesar de todos os avanços dos SUVs e crossovers, o ano de 2017 ficará caracterizado pela renovação e atualização tecnológica dos projetos em nível poucas vezes vistos na história da indústria. O primeiro a chegar é o Fiat Argo, cujas vendas já se iniciaram, enquanto o novo Polo vai demorar um pouco mais (ver abaixo).
Apesar de o novo compacto não se enquadrar como projeto mundial, o trabalho de desenvolvimento feito em Betim (MG) mostra-se bastante competente. Sua arquitetura básica é a do Punto, o qual substitui, mas com grau de refinamento superior. Isso aparece de forma conspícua desde o estilo bem atraente (basta notar o formato na parte central superior do para-brisa), um interior de características inéditas na marca, os cuidados com as guarnições de portas para garantir seu fechamento com um quê de qualidade e até pormenores como iluminação na região dos pés do motorista.
Oferecer três opções de motores – 1 litro tricilindro (72/77 cv) e dois quadricilindros de 1,3 (101/109 cv) e 1,75 litro (135/139 cv) – e três opções de câmbio – manual e automatizado de cinco marchas, além de um automático moderno de seis marchas – demonstra que a Fiat decidiu cercar a gama de concorrentes diretos. Estes incluem Onix, HB20, Ka, Gol, Sandero, Etios, 208 e C3 na ordem dos mais vendidos no mês passado. São três as versões – Drive, Precision e HGT – cujos preços, sem incluir opcionais, vão de R$ 46.800 a 70.600.
O Argo significa uma guinada no conceito comum na marca italiana de baixar preço a qualquer preço (trocadilho à margem). Nada de economizar em revestimentos baratos, saídas de ar do painel descuidadas, plásticos com rebarbas, tela multimídia (no caso, de sete polegadas, formato de tablete e alta definição) ou sonegar engates Isofix para bancos infantis. Única opção estranha é o volante com regulagem de altura e distância nas versões mais caras e só em altura, nas mais baratas. Faróis mais eficientes e sistema apurado de áudio indicam os objetivos buscados.
Espaço interno equivale ao do Onix, com vantagem de 7% no porta-malas de 300 litros (no rival, 280 litros). Seu desempenho dinâmico se destacou na avaliação inicial, em particular com o motor mais potente. O de 1,3 litro se ressente de falta de torque para seus 1.148 kg de peso em ordem de marcha. Já o de 1 litro nem estava disponível no lançamento, pressupondo que deixa a desejar.
Comportamento em curvas exemplar, embora o HGT estivesse com pneus mais largos opcionais. À posição de dirigir, bem melhor que em outros Fiat (volante menos inclinado e mais baixo), soma-se resposta direcional progressiva e precisa. Persiste, porém, curso do acelerador longo demais. Caixa de câmbio automática trabalha sem hesitações ou trancos. Até a regulagem do encosto dos bancos dianteiros, por botão giratório, foge de padrões franciscanos da marca.
Fiat espera vender 6.000 Argo por mês que, se somados aos 9.000 de Uno, Mobi e Palio juntos, lhe dariam condições de reassumir o protagonismo perdido nos últimos dois anos de conflito entre modelos e vendas em queda.
Fernando Calmon – Autor da Coluna Alta Roda.
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