As montadoras e as fabricantes de autopeças vêm esbarrando em uma dificuldade para a implementação de conceitos da indústria 4.0. O tema, que foi abordado durante o 6º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, realizado em 10 de setembro em São Paulo, vem ganhando espaço e virou tendência no Setor.
As empresas agora buscam se adequar às demandas por automação para conseguirem melhorar os níveis de produção e adotarem rotinas mais eficientes nas fábricas. Mas, com o assunto sendo mais abordado vão surgindo alguns empecilhos e fica claro que a realidade ainda está distante do dia a dia da indústria automotiva brasileira.
O Brasil esbarra, sobretudo, em duas questões: a ausência de tecnologia e mão de obra qualificada. Quem detalhou um pouco mais essa problemática foi Mauro Toledo, gerente de projetos da Roland Berger, durante o Fórum IQA.
“O Brasil tem poucos profissionais aptos a lidar com tecnologias da indústria 4.0. Ele ocupa o 126º lugar em qualidade de educação e o 114º em disponibilidade de engenheiros. Por isso os fabricantes terão de exercer papel ativo na formação de pessoal”. O profissional complementou sobre a lacuna em tecnologia comparando o disponível aqui com o que há em outros países mais avançados. “No Brasil há uma média de 10 robôs para cada 10 mil operadores, enquanto na Alemanha essa proporção é superior a 300 robôs/10 mil”.
Em entrevista exclusiva ao Brasil Peças, Hélio Sugimura, Gerente de Marketing e porta-voz da Mitsubishi Electric, falou sobre a automação nos processos de fabricação da empresa, seus benefícios, custos e tendências. Confira:
Qual é o impacto da automação industrial para a indústria de autopeças?
Sugimura: Com a necessidade de redução de custos, produção de maior mix de produtos, menores quantidades de produção e maior qualidade, a automação tem um papel fundamental para os desafios que as montadoras apresentam aos fabricantes de autopeças em qualquer camada (tier). Essas necessidades têm puxado uma maior demanda por automação, coleta de dados, rastreabilidade e robotização, não só no Brasil, mas mundialmente.
Quais componentes geralmente são aplicados dentro desse segmento? Como são usados?
Sugimura: Na indústria de autopeças no Brasil temos aplicados robôs industriais de pequeno porte, para manipulação de peças, aplicação de graxas ou resinas. Aplicamos também a linha de controladores programáveis (CLPs) com módulos de que transferem os dados diretamente aos bancos de dados no nível corporativo, possibilitando a rastreabilidade do processo e dados de produção.
Outro produto que tem aplicação nesta indústria são as interfaces homem máquina (IHM), que além de comandar as funções da célula de produção, pode ser uma ferramenta importante para os operadores, mostrando uma folha de instrução a cada passo de produção de uma determinada autopeça.
Qual é a eficiência que a automação industrial pode trazer para a operação?
Sugimura: A automação industrial pode melhorar a eficiência em várias frentes. Por exemplo:
coleta de dados da produção e variáveis dos equipamentos (temperatura, vibração, torque, entre outros);
visualização de dados através de interface homem máquina (IHMs) instalada na célula de produção, ou o acesso de seus dados através de tablets, smartTVs, celulares e PCs;
uso de interface homem máquina (IHMs) como uma folha de instrução eletrônica, para cada tipo de produtos, reduzindo o risco de falhas e o tempo necessário de treinamento dos operadores;
uso de robôs industriais para tarefas repetitivas e que requerem alta precisão, como manipulação de peças, aplicação de graxa, resinas, polimento de peças, alimentação de máquinas-ferramenta entre outros;
uso de inversores de frequência em torres de resfriamento, reduzindo o custo de energia elétrica;
servo motores em aplicações de manipuladores elétricos ao invés de aplicações de cilindros pneumáticos, trazendo maior velocidade e precisão nas operações.
Qual é o custo, em média, de trazer componentes de automação industrial para dentro da operação?
Sugimura: Na indústria de autopeças, há um investimento inicial nas células automatizadas, que na realidade irá refletir em um custo menor em perdas por problemas de qualidade ou retrabalho. As montadoras ao receberem um lote de peças, e encontrarem peças não conformes ou peças incorretas, podem retornar todo o lote ao fornecedor, solicitando uma nova inspeção, retrabalho, que requer mais gastos com mão de obra, além do risco de multas por linha parada.
No final das contas, investir em automação, é uma forma de reduzir custos e melhorar a produtividade da operação.
Há alguma tendência relacionada ao uso de automação industrial dentro do segmento de autopeças?
Sugimura: As indústrias de autopeças já têm um certo grau de automação em suas células ou processos. Com a tendência mundial da manufatura avançada, a tendência que na realidade é uma necessidade, é a questão de coleta de dados e rastreabilidade do processo. Com o aumento de mix de produtos e lotes menores de produção, fica cada vez mais importante a necessidade de uso destes dados para reduzir o ciclo de produção. Isso só pode ser conseguido com a coleta de dados e sua análise posterior.
Outra tendência observada é o maior uso de robôs para atividades que necessitam de velocidade e precisão. Temos robôs sendo utilizados para movimentação de pequenas peças, aplicação de graxas, resinas ou em alimentadores de peças brutas em máquinas-ferramenta, garantindo que uma operação de alta qualidade e precisão.