A Brave-Brasil deve inaugurar até o fim do ano, no MS, uma fábrica para a produção de modelos elétricos totalmente nacionais.
100% Nacional – O cenário dos veículos elétricos no Brasil está prestes a tomar novos rumos. A responsável por essa significativa mudança no cenário nacional é a Brave-Brasil. A montadora pretende, até o fim do ano, iniciar a produção de carros movidos a energia elétrica e 100% nacionais.
O local escolhido para a iniciativa foi Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Posteriormente, uma planta deve ser especialmente desenvolvida para a produção de baterias na região da fronteira entre o estado e o Paraguai.
Humberto Silva, um dos executivos da nova montadora, afirma que já existem planos para a fabricação de pelo menos quatro veículos diferentes. “A nossa produção média será de 100 a 200 veículos por mês. Teremos um micro-ônibus voltado para o turismo, mobilidade em locais como resorts, parques, aeroportos, condomínios de alto padrão e city tours; um caminhão um pouco maior que uma Saveiro, com capacidade de até 700 kg, para entregas; um BR Cross para quatro pessoas usarem em circuitos urbanos; e outro para duas pessoas que pode ser usado para entregas”, detalhou o executivo.
Silva também destacou que todos esses modelos serão produzidos com tecnologia e peças nacionais, mas não deu detalhes sobre a autonomia dos veículos, isto é, a quantidade de km que eles podem percorrer com uma carga completa da bateria. Além da Brave-Brasil, uma outra marca também está trazendo carros elétricos para o país. A Hitech Electric fica sediada em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Humberto Silva também comentou os retornos que o projeto da Brave-Brasil traria à cidade de Campo Grande e ao MS. “O formato seria trazer o aporte tecnológico e darmos todo o apoio para instalação dessa base industrial, que movimentaria toda a cadeia produtiva do estado em uma parceria com a Fiems, Governo do Estado e prefeituras para se criar veículos elétricos que atenderiam a iniciativa pública e privada”.
“A Brave produz esses veículos com tecnologia nacional, toda a parte de peças automotivas do mercado nacional, assim como a gestão de cargas das baterias, motores e tudo isso coordenado por esse grupo de inovação, que estudou o mercado para chegar a um conjunto de soluções. Inclusive com garagens fotovoltaicas para carregar esses veículos elétricos, o que deixa o gasto com combustível até 8 vezes mais barato se comparado com o gasto com gasolina”, explicou.
Em Campo Grande, a Fiems assumiu o compromisso de ajudar o empreendimento da nova fábrica, inclusive com o Senai, enquanto a Comissão de Indústria e Comércio da Assembleia Legislativa vai colaborar para facilitar o acesso da Brave-Brasil às ferramentas necessárias, como, por exemplo, ao financiamento via FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste), que tem uma linha de crédito específica para novas tecnologias.
O empresário Neriberto Pamplona, também da Brave-Brasil, acrescenta que, com o empenho do deputado Paulo Corrêa e do presidente da Fiems, Sérgio Longen, a montadora poderia se instalar até o fim do ano em Campo Grande, iniciando a produção. “Os incentivos fiscais oferecidos pelo Governo são o principal atrativo e, graças a isso, Mato Grosso do Sul pode se tornar um fornecedor de veículos elétricos para todo o Brasil ”.
Veículos elétricos em alta
A iniciativa da Brave-Brasil se dá em um momento em que tanto nacional quanto internacionalmente crescem as expectativas sobre os veículos elétricos. Estudos sobre o desenvolvimento das tecnologias dos híbridos e elétricos e suas baterias, previsões sobre a proporção desses modelos nas frotas locais e globais e os impactos ambientais que esses carros trarão ao meio ambiente são realizados, praticamente, mensalmente.
Para se ter ideia, ainda em 2016, um relatório da consultoria financeira Morgan Stanley indicava que em 2025 carros elétricos já representem 15% do mercado mundial, isto é, três vezes mais do que previsões de crescimento anteriores. Atualmente, eles são apenas 0,86%.
Já o estudo recente da FGV Energia, mostra que a frota mundial de elétricos e híbridos no ano passado era de 2 milhões de veículos para passageiros (exclui ônibus e motocicletas). A previsão, segundo essa pesquisa, é que até 2020 chegue a 13 milhões e, em 2030, a 140 milhões, ou 10% da frota total de carros. Números mais conservadores do que o estudo apresentado pela Morgan Stanley em 2016.
Cenário no Brasil
No Brasil, desde 2011, foram vendidos 5,9 mil carros elétricos e híbridos, dos quais 2.079 neste ano, quase o dobro de 2016. O número representa 0,3% das vendas totais. Sozinho, o híbrido Toyota Prius, que custa R$ 120 mil, respondeu por quase 80% das vendas deste ano, com 1.635 unidades.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calcula que, em dez anos, 2,5% das vendas de carros no País serão de híbridos (o que equivalerá a 0,4% da frota total). Boa parte deles deve utilizar etanol como combustível para gerar a energia da bateria, tecnologia que está em desenvolvimento por empresas como Toyota e Nissan. A fatia dos elétricos não foi calculada.
Agora, um grupo de empresas dos setores de energia, automotivo, tecnologia e de postos de combustível se prepara para uma ofensiva em prol dos carros elétricos e híbridos no Brasil. A visão do grupo é que o País não pode ficar muito atrás na eletrificação automotiva,caso queira se integrar às diretrizes da indústria global.
Uma das ações será o lançamento, até o fim do ano, de uma rede de postos de recarga rápida, que permite que 80% da bateria seja carregada em até meia hora. O grupo também aguarda anúncio da produção do primeiro carro elétrico no País. O movimento ocorre em um momento em que governos e várias montadoras da Europa, China e Estados Unidos anunciam planos ambiciosos de eletrificação de suas frotas e estabelecem prazos para encerrar a produção de veículos a combustão, principalmente para atender metas de emissão de poluentes.
O impulso que falta
Segundo Licio Melo, especialista em Vendas Industriais, mudanças bruscas neste mercado só podem acontecer quando os governos oferecem a retaguarda necessária para novos investimentos, isto é, primeiro o governo acena e depois o mercado faz sua parte. Ele dá como exemplo a Noruega. Lá, segundo o consultor, em janeiro de 2017, 37% dos novos veículos em circulação eram movidos a eletricidade.
A pesquisadora da FGV Energia, Tatiana Bruce, responsável pelo estudo que utiliza dados globais da International Energy Agency (IEA), corrobora e destaca a relação entre países nos quais o apoio tributário facilita a aquisição desse tipo de veículos. “Os grandes responsáveis pela adoção mais acelerada do carro elétrico em outros países são os subsídios para aquisição”. Na China, mercado que mais cresce atualmente, o governo banca entre um terço e metade dos preços dos carros elétricos. A preocupação de ambientalistas é que a maior parte da energia local vem de térmicas a carvão.
No Brasil, por enquanto, os incentivos são a isenção do Imposto de Importação para elétricos e redução da alíquota de 35% para até 7% para os híbridos. Alguns municípios, como São Paulo, oferecem isenção de IPVA e dispensa do rodízio.
As coisas por aqui, aliás, parecem emperradas. O programa Rota 2030, a nova política para o setor, pretendia centrar benefícios fiscais na eficiência energética dos carros. Mas, por pressão das montadoras, o novo programa deve incluir os veículos convencionais – na contramão do que acontece no resto do mundo.
Baterias ainda são empecilho
O que ainda segura apostas firmes das montadoras são as limitações técnicas da bateria. Ainda é cara demais (entre 30% e 40% do preço do veículo), pesada demais (cerca de 500 kg) e de autonomia ainda baixa (entre 100 e 300 km) nos modelos mais acessíveis.
Mas, os avanços são significativos. Fundamentalmente, a mesma usada nos celulares, tende a ficar mais barata, tanto pelo aumento da escala de produção quanto pela atual corrida à mineração do lítio que deve expandir sua oferta. O relatório New Energy Finance de 2017, da Bloomberg, calcula que até 2030, quando 10% da frota mundial será de carros elétricos ou híbridos, o custo dessas baterias terá despencado em 73%. Cinco ou sete anos antes disso, os preços dos veículos elétricos terão se equiparado aos dos atuais modelos a combustão.
Até lá, quem deve ganhar mais espaço nas ruas é o híbrido. Mais barato, por não precisar de bateria com grande autonomia – que consiga percorrer cerca de 700 km até a próxima recarga –, o modelo vai nortear por alguns anos o investimento das montadoras, já que o consumidor ainda precisa se adaptar ao cenário de carros 100% elétricos, com as mudanças no padrão de consumo que eles trazem.
O ponto de virada talvez seja o início do funcionamento da supermontadora da Tesla, em Reno, Estado de Nevada (Estados Unidos). Lá deve ser fabricado o Tesla Model 3, cujo preço de venda está em US$ 35 mil. Já há mais de 400 mil encomendas firmes. Os governos da França e do Reino Unido anunciaram que, até 2040, carros com motores movidos a combustível fóssil não poderão mais ser vendidos. A China também estuda proibição equivalente.
No estágio atual do segmento, preço e aumento na oferta tendem a evoluir favoravelmente. Mas, o problema do peso e da autonomia da bateria avançam mais devagar. O objetivo é melhorar a densidade energética – para carregar mais e aumentar a autonomia – sem elevar o peso das baterias. A recompensa para quem chegar na frente é muito alta. “A bateria já avançou muito, mas a fronteira dela ainda não foi alcançada”, observa a especialista da FGV Energia, Tatiana Bruce.
Outras iniciativas
Enquanto o governo não define uma política para carros elétricos e híbridos, novas empresas do ramo chegam para testar o mercado brasileiro. A Hitech Electric, do brasileiro Rodrigo Contin, iniciou em maio a importação de compactos das chinesas Aoxin e Lgao, movidos a bateria, que custam a partir de R$ 55 mil – menor valor para elétricos cobrado no País.
Expostos no Salão Latino-Americano de Veículos Híbridos-Elétricos, que aconteceu em agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo, os modelos chamam a atenção pelo design. Um deles, para dois passageiros, se parece com um carrinho de golfe.
Chamado de e.coTech, só pode rodar na cidade e atinge velocidade máxima de 60 km por hora. A bateria cheia percorre até 120 km. Também há uma versão para quatro passageiros e dois pequenos caminhões.
Os veículos chegam quase prontos da China e, na sede da Hitech, em Curitiba (PR), são finalizados. O grupo por enquanto tem quatro concessionárias (em São Paulo, Maringá, Brasília e Joinville) e deve chegar a 20 até 2019, quando espera vender 1 mil unidades ao ano.
Fonte: BVMI