Desafios do atual mercado – as mudanças frequentes do mercado e a busca constante por profissionais qualificados continuam a afetar os fabricantes de automóveis. Além desses desafios, as montadoras também precisam ficar atentas à ameaça das guerras de tarifas e a alta competitividade no comércio global. Essa volatilidade no setor automotivo está causando um grande impacto entre as negociações das indústrias e seus fornecedores.
Com retomada na produção, montadoras encaram problemas a serem superados
Dadas as condições, os fabricantes de automóveis que conseguirem se adaptar a esses desafios terão uma chance muito maior não só de sobreviver, como também prosperar. Para isso, manter o foco nos desafios do setor, tais como as alterações no padrão de consumo dos compradores, o avanço das inovações tecnológicas e competição por profissionais qualificados no mercado, se tornam imprescindíveis para as empresas.
Veja os cinco principais desafios enfrentados pela indústria automotiva atualmente, e como competir nesse mercado:
Volatilidade global
Após os EUA anunciarem novas tarifas sobre a importação de aço e alumínio, em março de 2018, as montadoras americanas viram o preço dessas commodities subir quase imediatamente – mesmo no mercado interno. E isso foi só o começo de uma guerra comercial pelo mundo. Para piorar a situação, alguns países – até os aliados comerciais dos EUA – retaliaram, com suas próprias tarifas, sobre as mercadorias americanas. No caso da China, foram reativadas taxas de 25% frente à importação de carros e 5% sobre autopeças fabricadas em território estadunidense.
Essas tarifas podem afetar não somente o custo das matérias-primas e dos veículos finalizados, mas também podem ter um impacto significativo nos componentes e subconjuntos. Obviamente, nenhuma empresa quer pagar impostos exorbitantes, então, os fabricantes e fornecedores de automóveis precisam considerar fontes alternativas de matérias-primas e manufatura. Isso pode significar o deslocamento da produção de montadoras americanas para fora dos EUA, o que causaria grandes rupturas na cadeia de abastecimento automotiva, e forçaria os fabricantes a recuar em Pesquisas e Desenvolvimento (P&D) para colocar a lucratividade em porto seguro.
Por essa razão, os fabricantes precisam considerar realocar suas operações e reavaliar sua cadeia de suprimentos, tendo acesso a uma força de trabalho qualificada, onde quer que estejam localizadas suas indústrias. Os investimentos em P&D demandam equilíbrio com a perspectiva de margens mais apertadas e lucros menores – especialmente se o alto custo dos veículos resultarem em vendas menores.
Mudança do comportamento dos compradores
É difícil prever exatamente como toda essa volatilidade afetará nas vendas totais de veículos. Mas, de fato, já há uma mudança no padrão de consumo no país. Os serviços de mobilidade urbana, oferecidos por empresas que conectam motoristas e usuários em carros compartilhados, como o Uber e o Lyft, estão reduzindo o número de proprietários de veículos e consolidando ainda mais o mercado de aplicativos de transporte. Segundo levantamento realizado pela consultoria eMarketer, até o final de 2018, o Uber foi utilizado por 77% de consumidores dessa modalidade nos EUA, enquanto que a fatia do seu concorrente Lyft representou 48% dos usuários. Juntas, em média, contabilizaram 80 milhões de norte-americanos que optaram por não dirigir em seu dia a dia.
Outra mudança significativa no comportamento dos consumidores é o aumento considerável da demanda por personalização. Os compradores de hoje não se contentam em escolher entre um número limitado de opções de acabamento. Para atender a essa nova expectativa, as montadoras optam por diversificar sua linha de produtos em volumes menores. Infelizmente, o ferramental necessário para isso aumenta a pressão sobre o lucro.
Esse desejo crescente pela personalização dos veículos está criando mais oportunidades para o mercado de acessórios. Quando os proprietários não conseguem o que querem do revendedor, procuram outras fontes de modificações pós-venda. A Market Research Future prevê que o mercado atual de acessórios automotivos, estimado em $530 bilhões (USD), poderá aumentar para mais de $660 bilhões (USD) até 2023. Não demorou para que os fornecedores, que tradicionalmente operavam apenas em OEM, passassem a a investir também no fornecimento de acessórios.
Influência de novas tecnologias
Outra tendência que está em alta são os automóveis que ofereçam maior economia de combustível e menor emissão de CO2. Algumas opções, que já podem ser encontradas no mercado, são os veículos elétricos a bateria (BEVs) e híbridos plug-in (PHEVs). De acordo com a McKinsey, consultoria empresarial americana, o ano de 2017 foi o primeiro em que mais de um milhão de veículos Evs (combinação dos BEVs e PHEVs numa única categoria) foram vendidos. “Na trajetória atual de crescimento, os fabricantes de EVs poderiam quase quadruplicar essa realização até 2020, movimentando 4,5 milhões de unidades. Cerca de 5% do mercado global total de veículos leves”, explica a consultoria.
A maioria dos compradores ainda não estão prontos para veículos autônomos, mas diversas empresas, tanto do setor tecnológico, como automotivo – incluindo Google, Mobileye, Groupe PSA, BMW e Denso – estão realizando altos investimentos em pesquisas para o avanço no desenvolvimento destes veículos. Segundo a Allied Market Research, empresa de consultoria e pesquisa de mercado, “a expectativa é que o valor do mercado global de veículos autônomos seja de $54,23 bilhões em 2019, e estima-se que deve atingir $556,67 bilhões até 2026, registrando um CAGR de 39,47% de 2019 a 2026.”
Embora todas essas tendências sejam mais futuristas do que atuais, os veículos conectados já fazem parte de nossas rotinas. Além de auxiliar os motoristas com sistemas de navegação em tempo real, infotainment e resposta de emergência automatizada, a enorme quantidade de dados gerada pelos smart cars está abrindo novas oportunidades para as empresas automotivas. Para a McKinsey, as empresas que utilizam esses dados têm três opções principais de monetização: “geração de receita, redução de custos e aumento da segurança pessoal e patrimonial”, mas ela reforça que os “players” nesse espaço ainda precisam realmente capitalizar isso, se atentando não somente à garantia de segurança e proteção de sua tecnologia, como devem manter também a privacidade de seus clientes.
Força de trabalho dinâmica
Até recentemente, as fabricantes de automóveis tinham o foco em manter a mão de obra qualificada necessária para a produção. Com a transformação digital, que atingiu a indústria automotiva, incluindo processos de manufatura, aumentou a necessidade de habilidades especializadas. Mas, ao invés de substituir os trabalhadores, as empresas precisam modernizar as equipes para realizar novas tarefas digitais.
Isso significa que as empresas automotivas estão concorrendo, cada vez mais, com outras indústrias impelidas por tecnologia para a contratação de trabalhadores altamente qualificados. Para complicar ainda mais, as empresas que não se enquadram no setor automotivo tradicional, como Apple e Google, também estão procurando esse perfil de profissional para suas divisões automotivas. Competir com essas empresas pode ser uma tarefa difícil, levando em conta que a indústria automotiva não é tradicionalmente vista dessa maneira.
Outro ponto a ser levado em conta é que a geração baby boomer está se aposentando e levando consigo todo conhecimento técnico e institucional. Assim, as montadoras precisam não somente encontrar profissionais qualificados para substituir aqueles que estão se aposentando, mas também alinhar formas de captar o conhecimento destes profissionais aposentados e disponibilizar essas informações para a geração que está chegando, em sua maioria composta por millennials.
Por sua vez, essa geração espera um ambiente de trabalho permeado de tecnologia. Segundo a Forbes, “para atrair e reter talentos, as empresas precisarão adaptar a cultura do local de trabalho para acomodar a abordagem progressiva e a sede de tecnologia dos millennials, assim como das gerações que virão”. Segundo a revista, há quatro áreas tecnológicas que as empresas deverão se concentrar: educação (e-learning), comunicação (redes sociais, mensagens instantâneas, blogs etc.), inteligência artificial (“automação de tarefas rotineiras e mundanas”) e gerenciamento de projetos (ferramentas interconectadas).