Redondamente enganado – O futuro da indústria automobilística aponta, ninguém sabe com certeza em que ritmo, para a tração elétrica e avanço das tecnologias de condução autônoma. É uma aposta industrial e de infraestrutura caríssima, sujeita a altos riscos econômicos e de difícil implantação fora de países ricos ou superpopulosos como a China e, eventualmente, a Índia. Pular a etapa racional dos híbridos pode se tornar um erro grave, talvez tarde demais para reverter.
No entanto, automóveis continuarão a existir e para rodar vão continuar precisando de pneus. Esses são o único e estreito vínculo entre o veículo e o solo. Os fabricantes desses produtos de borracha estão de longe de atuar com indiferença sobre os cenários que se apresentam nas próximas décadas.
Uma das apostas mais ousadas é o pneu esférico da americana Goodyear, Eagle 360 Urban, que dispensa rodas. Um exercício de ficção científica com uma espécie de pele biônica na superfície de rodagem, nunca fura, utiliza inteligência artificial e pode levitar magneticamente em uma estrada especialmente construída para ele. Nem a empresa consegue fazer previsão de quando se tornará realidade.
Os desafios para carros elétricos também não são poucos. Os pneus precisam de um rodar silencioso. Mesmo com dimensões mais estreitas devem compensar o desgaste extra pelo peso das baterias e torque instantâneo do motor que proporciona acelerações fortes.
De qualquer forma a evolução terá que vir também para os carros atuais. Foi motivo de análise aprofundada pelo site inglês www.just-auto.com do qual este colunista é correspondente. Primeira preocupação é diminuir peso. A japonesa Yokohama trabalha para reduzir massa em 25%.
Cada pneu de automóvel exige 40 litros de petróleo para ser produzido. É possível economizar ao usar de óleo de soja na composição da borracha. A francesa Michelin desenvolve uma roda flexível capaz de se deformar e evitar que o pneu esvazie ao passar por buracos de DNA brasileiro, sonho de consumo por aqui.
Muito interessante é a proposta da alemã Continental. Câmeras rastreiam o spray de água em pista molhada e, com ajuda de outros parâmetros, antecipa o risco de aquaplanagem. Interage, então, com controles eletrônicos para diminuir a velocidade, resolvendo um dos maiores problemas de um veículo com direção autônoma e mesmo de motoristas comuns.
Italiana Pirelli promete, no final deste ano, introduzir a troca de informações em tempo real entre pneus e a eletrônica de bordo, em particular com Sistemas de Assistência Avançada ao Motorista (ADAS, na sigla em inglês).
E que tal um pneu que “respira” e limpa o ar em torno dele? Pois a Goodyear propõe exatamente isso. Desenvolveu um protótipo de um não pneumático com estrutura aberta que aumenta a aderência ao absorver água da pavimentação molhada. Na lateral existem musgos capazes de utilizar umidade e iniciar um processo de fotossíntese absorvendo CO2 e devolvendo oxigênio para a atmosfera.
Portanto, de onde menos se espera, brota alta tecnologia. Mesmo de uma estrutura circular, de cor negra e que aparentemente nada agrega. Quem pensava assim estava redondamente enganado, nos dois sentidos do termo.
Alta Roda
Por: Fernando Calmon
Fernando Calmon – Autor da Coluna Alta Roda
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