União Europeia e Mercosul debatem setor automotivo
Na reta final das negociações do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, os europeus intensificaram a pressão por abertura do setor automotivo. Os negociadores do Cone Sul flexibilizaram sua posição e aceitaram zerar as tarifas de importação de carros, hoje em 35%, em 12 anos. Pela oferta anterior, a abertura total do setor só ocorreria em 15 anos.
Os europeus, no entanto, querem um prazo ainda mais curto: oito anos. Segundo pessoas que acompanham de perto o processo, pode ser uma estratégia para tentar fechar em dez anos. Existe também um embate em torno da regra de origem do setor. Hoje, os países do Mercosul exigem que 60% das peças dos veículos sejam fabricadas dentro do bloco.
Essa regra é resultado das características da indústria local, que é bastante verticalizada. Já os europeus, que produzem peças em vários lugares do mundo e agregam apenas tecnologia e design nos países de origem, querem uma regra mais frouxa.
As conversas sobre o setor automotivo dominaram a nova rodada de negociações, que termina hoje em Bruxelas, na Bélgica. Depois do fracasso de fechar o acordo em dezembro, os dois blocos estão se esforçando para concluir as conversas no fim deste mês durante uma reunião em Assunção, no Paraguai.
Mas ainda há muitas resistências a serem vencidas. Sob condição de anonimato, representantes das montadoras reclamam que o acordo vai afugentar investimentos no Mercosul. Segundo eles, a Europa tem muita capacidade ociosa e fará mais sentido exportar de lá do que produzir aqui.
As negociações entre Mercosul e União Europeia se arrastam há 17 anos, mas agora existe vontade política de fechar o acordo. Tradicionalmente refratária, a Argentina hoje é uma das maiores entusiastas. O presidente Maurício Macri quer mandar um sinal de que seu país está novamente aberto ao mundo, após o período dos Kirchner.
Para o presidente Michel Temer, o acordo também seria considerado uma vitória política. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é a favor da abertura do mercado, mas outros membros do governo temem prejudicar a ainda tênue recuperação da economia.
Fonte: Folha de S. Paulo